Episódio 1 | Episódio 2

Preâmbulo


Antes de abrir propriamente as crónicas HISTÓRIA e MEMÓRIAS de São Brás de Alportel, cumpre-nos com esta secção prestar homenagem antecipada pelo "Centenário do Município de São Brás de Alportel 1914-2014" que terá a sua comemoração este ano em conjunto também por mera coincidência, com os cem anos do primeiro filme apresentado por Chaplin em 1914 "Fazer pela vida". O nosso projecto cumpre o papel que lhe é destinado com as tecnologias, mas a mediaKRIATIVE e a sua redação expande-se com a autoria numa pesquisa deste território que é atualmente ocupado pelo concelho e que esconde a história de muitos milhares de anos, sendo esse o motivo que nos levará a dividir o contexto narrativo em duas secções.

O primeiro separador e 1.ª fase, inicia com a pré-HISTÓRIA, a "ocupação humana" a.C. no território, até chegarmos a 1249 d.C com o culminar da conquista de Faro e do resto do Algarve por Afonso III. Não vamos especular nem ter como base suposições infundadas, vamos sim ter como alicerce o que supostamente acontecia na maior parte da Península Ibérica. A aposta foi sub-dividir os títulos em 6 episódios na secção 1 de HISTÓRIA e finalizar com os últimos 6 episódios no espaço rural, lugar aqui existente, concluindo com o povoado reconhecido como freguesia e elevado a concelho em 1914 na secção 2 de MEMÓRIAS. O desenvolvimento das tradições e costumes desta Vila, serão apresentados com o culminar em fotos de memórias até chegarmos aos nossos dias, em resumo como originalidade, partilharemos aqui os 12 episódios da nossa pesquisa ao misturar uma jornada fictícia (ficção) de modo a narrar uma linha temporal de várias eras na história dos achados e no desenvolvimento da história humana.

Para finalizar, em âmbito de nota de rodapé vamos narrar a história e as memórias da vila, com um arranjo histórico com base em achados arqueológicos reais e acesso a alguma documentação. A nossa atitude lógica como redatores será uma criação contínua. Teremos em atenção alguma divulgação que os nossos leitores poderão fornecer, textos de artigo para construção da linha temporal dos acontecimentos destas últimas décadas que serão mais do conhecimento de alguns munícipes e que poderão corrigir ou estar retiradas das nossas pesquisas.

Esperamos que gostem!

Texto publicado por mediaKRIATIVE




Episódio 1

Ocupação Humana

Encontramo-nos à um milhão de anos atrás no extremo sul da Península Ibérica, muito antes do início da história, muito antes da origem de Ossónoba, muito menos de Faro, antes dos povoados, o mar esculpe este território junto à costa desde o passado da epopeia do homo-habilis até ao homo-erectus. Existiram por aqui várias espécies que vão culminar com o homo-sapiens e a sua entrada no paleolítico à -100.000 anos a.C e vive exclusivamente em grutas. Esta paisagem humanizada estendia-se pela orla marítima algarvia e era marcada aqui pela antiga lagunar da atual ria formosa e a ocidente com a ria flandriana do Alvor, profundamente entalhadas nas Baías com enseadas interiores, outrora existentes.

Do Neandertal ao Homem moderno

Em todo o hemisfério norte as temperaturas descem drasticamente com a glaciação de Würm, aqui o homem de Neandertal cria a edificação da cabana, domina o fogo, utiliza já alguma linguagem rudimentar, mas uma outra espécie aparece na linha da costa e vem também aqui ocupar este mesmo espaço, chega o homo-sapiens-sapiens como atestam diversos achados. À -30.000 anos a.C, o desenvolvimento da nossa espécie o homo-sapiens veio para ficar apreende desde logo o mundo do alto da consciência da sua vida na explosão do paleolítico superior, durante alguns milhares de anos o modo de vida aqui evolui pouco, é a era dos grandes caçadores que se deslocam da orla costeira cada vez mais para o interior com o aperfeiçoamento de muitas outras ferramentas de sobrevivência.

Junto à orla marítima aparece a indústria Mustierense, *nos últimos -20.000 anos a.C, alguns destes povoados que estavam a algumas centenas de metros da então linha de água foram ficando submersos e terão de ir alguns quilómetros para cima, com a melhoria climática significativa dos últimos episódios glaciários, ondas de grandes proporções varrem a costa algarvia, a paisagem contrastada está na origem de todo o tipo de vegetação e condições favoráveis à vida, o homo-sapiens ganha o seu posto na hierarquia da evolução, ficando como espécie dominante.

O grupo que não quer o mar

"Nasce o dia, sabendo explorar a fundo os recursos do meio ambiente onde estão inseridos, um casal não quer estar junto ao mar, observam a orla do maciço calcário, o barrocal e a serra ao longe do mesmo modo que simultaneamente olham para o mar que se encontra atrás deles. Com seus três descendentes mais um pequeno grupo da comunidade junto do litoral tem a iniciativa de deslocarem-se para norte ao abarcar numa jornada que terá impacto sobre esta comunidade humana pré-histórica. À -10.000 anos a.C, este grupo caminha para o norte para o sopé da serra carregando os seus acampamentos sazonais de tendas leves até chegarem ao território onde existem duas áreas naturais, o barrocal e a serra. Era um local extensamente florestado, ainda não tinha aparecido o sobreiro, esta zona era bastante mais húmida do que é na atualidade, predominava uma zona densa de carvalho e o castanheiro este último fruto (castanha) serviria de alimentação. Após a ocupação humana neste território, existe abundância de nascentes, este pequeno grupo de homo-sapiens estabelecem-se construindo antas e menires, como atestam diversos achados, lascas de sílex, quartzo entre outros. Serviu como alimentação a apanha de cogumelos, bagas, e mais tarde até a pastorícia e a caça, nasce a arte com o aparecimento civilização Madalenense e ferramentas mais complexas, no xisto numa das superfícies desenham um bovídeo e, na outra, um cavalo."

Neolítico

A linha de tempo não pára, formam-se as civilizações Sauveterróides e Tardenóides à -5.000 anos a.C, o domínio cada vez mais intenso dos meios naturais, a domesticação das plantas, dos animais, favorece ao aparecimento de maiores grupos por aqui, inserindo-se na paisagem variada e particularmente na orla das nascentes e rios. Nos finais do Mesolítico em plena idade do Neolítico, a metalurgia aparece, é a chegada dos metais, pelo menos a do cobre, datável de -3200 a -2800 a.C. aparecimento dos monumentos e túmulos Megalíticos em pleno barrocal como a Anta das Pedras Altas situa-se num alto cerro junto ao Monte da Mealha. Localizam-se criptas escavadas artificialmente na rocha e usadas como espaços de tumulação, usam como material de construção a pedra da região (o calcário local e o arenito e o xisto da área envolvente) e como material de revestimento e ligante a argila local propícia a existir lugarejos pré-históricos nas vertentes do vale de Alportel e do Almargem, milénios de agricultura rudimentar intensiva antes de entrarmos na serra, fontes de água límpida e queimadas que dizimaram a floresta ancestral.

No período Calcolítico, a partir de -2800 a.C, na envolvente imediata de aglomerado de casas (possivelmente vários sítios ou lugares), ao longo de várias gerações, cerca de duas dezenas de edifícios megalíticos e respectivas áreas cerimoniais conexas, sobre as mesmas pedras que caminhamos, comprova-se a presença humana de um pequeno povoado formando aqui um lugarejo.

Nos primórdios aqui do pequeno povoado, no que se refere à Proto-História o desconhecimento é ainda total, nos finais do Neolítico com a revolução agrícola, os recipientes de outrora em pedra são substituídos por argila (barro) e terracota, a difusão da arte (estátuas-menires) bebe os seus motivos entre divindades e acontecimentos da época. Dá-se o aparecimento dos metais, inicialmente a metalurgia do cobre e finalmente o ferro que resultam num fenómeno de evolução no período compreendido ente -1.500 a.C e -800 a.C.

*Nestes últimos vinte milénios com a compreensão dos processos geológicos e arqueológico o nível médio do mar na costa algarvia encontrava-se 120 metros abaixo da cota atual.

Informações provenientes de diferentes campos científicos como as Geociências e a Arqueologia, juntamente com informações proveniente de meio Subaquático.

LEANDRO INFANTINI DA ROSA
A EVOLUÇÃO DA LINHA DE COSTA ALGARVIA

UNIVERSIDADE DO ALGARVE
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS | DEPTº DE HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E PATRIMÓNIO - 2008

Texto adaptado e publicado por mediaKRIATIVE



Episódio 2

Culturas Tribais e Comerciais

Nos -1000 a.C, decorridos essencialmente durante a idade do ferro, acompanhando a progressão da agricultura e das primeiras comunidades camponesas chegam por aqui a sul os primeiros grupos tribais, vamos ter o território ocupado por tribos de habitantes originais provenientes do norte, criadores da grande cultura megalítica. Formam-se inicialmente comunidades de povos autóctones, dando origem à tribo ibérica que viria ser conhecida como Iberos, num vasto espaço ao que os próprios geógrafos Gregos deram o nome da *Ibéria. Quanto às primeiras migrações Celtas chegaram ao ocidente europeu, já os Iberos estavam estabelecidos á muitas gerações da antiguidade, não se sabe ao certo a origem destas tribos Celtas, mas é muito provável que fossem oriundas dos alpes suíços e tenham migrado devido ao clima mais quente, (não se devem confundir com os celtas ibéricos a norte da Europa). Coexistiram com os Iberos habitando em regiões distintas: os Celtas viviam principalmente na zona Norte da península, enquanto os Iberos fixaram-se na zona Sul, existe indícios de que mais tarde estas etnias Celtas e os povos Iberos formam uma aliança militar contra os Romanos, dando origem aos Celtiberos.

*Segundo estudos, os Iberos teriam origem do norte da Europa caucasiana, e teriam construído "oppida" muito semelhantes às mesmas construções encontradas na Escócia. Essa teoria está apoiada em evidências arqueológicas, genéticas e linguísticas. Provavelmente derivado do (Iberus), a todas as tribos instaladas na costa sueste, no poema Grego, "Ode Marítima", relata as aventuras de um navegador grego que nos finais do século VI a.C. descreve a existência de várias etnias na costa meridional atlântica, seriam, provavelmente, os responsáveis pelo comércio com o atlântico norte.





De Iberos a "Lusitani" versus "Celtici"

Século X a.C. (-900 a.C.) neste período na costa este-norte, as tribos dos Iberos agrupam-se em cidades-estado independentes e passo a passo mesclaram-se formando o povo "Lusitani" original que combaterá mais tarde os Romanos. Possivelmente pouco tempo antes da invasão Romana iniciada no século I a.C. estes com os desígnios expansionistas da cidade manterão o nome de Lusitânia-Romana no mapa como uma província próspera que no futuro será o território "Portucale" Portugal de hoje, (será para um episódio mais tarde).

*As informações sobre os Lusitanos são-nos transmitidas através dos relatos dos autores gregos e romanos da antiguidade o que por vezes causa diversos problemas ou conflitos na interpretação dos seus textos.

"Lusitani" encontravam-se, na parte ocidental, considerada por alguns autores a maior das tribos ibéricas, com a qual durante muitos anos lutaram os romanos e que posterior vieram a sofrer influências mediterrânicas dando origem aos Lusitanos.



Culturas "os povos do mar"

Viramo-nos para sul, aqui antes de qualquer memória existente de São Brás, este lugar é habitado por comunidades Lusitanas dispersas em pequenos povoados, nas férteis terras interiores do Barrocal, formam-se monarquias que rivalizam as cidades-estado do norte com os mais variados santuários religiosos e existe uma grande variedade de cerâmica de distintos estilos ibéricos. É o centro hegemónico de um território próspero por estar localizado junto à linha da costa com acesso aos seus portos, o poder militar do ferro desempenha um papel de contacto com outros povos do oriente no 1.º milénio a.C. inicialmente com os Fenícios "os povos do mar"e mais tarde os Cartagineses.

"Estamos na região montanhosa entre o barrocal e a serra, o mar espreita no horizonte a sul, a paisagem é ocupada por um povoamento de casas circulares no sopé íngreme do serro por um povo, os Lusitanos à -800 a.C. São guerreiros e agrários, as minas que abrangem este território até à zona hispânica dão-lhes o ferro que serve para os seus instrumentos de guerra. Alguns indivíduos lavram a terra em proveito da comunidade enquanto outros tem como função nos seus posto de vigia o da proteção e têm como parceiros comerciais os Fenícios que começam a fundar aqui colónias comerciais."

Transações Comerciais

Os Fenícios tiveram influências mínimas na ascendência do povo ibérico, contudo contribuem culturalmente com o alfabeto greco-ibérico e a escrita paleohispânica, motivando à tribo a uma nova adaptação linguística indo-europeia, criando o dialeto da língua Ibérica que continuará a ser falada durante a ocupação romana e uma escrita derivada dos sistemas fenício e grego. Os Lusitanos bebem desta distinta cultura do mediterrâneo oriental ao começarem a servir-se de uma escrita alfabética.

#"Não se sabe de fonte segura quando foi iniciada a exploração da mina de Tareja, admite-se que os Fenícios tenham iniciado por aqui as primeiras actividades comerciais, vindo aqui à procura das minas de cobre."
Fenícios comercializam na maior parte da Europa-mediterrânica, trazem-nos a púrpura o fruto da palmeira ou talvez tecidos desconhecidos realizando transacções em troca da madeira de cedro e minerais. A presença numa lápide dum crescente lunar assinala o culto a "Selene", divindade lunar associada de culto, documentado a sul da península em contextos de secretismo de origem Fenício-púnica.



Pesquisas proveniente de: "Atlas Histórico da pré-história aos nossos dias" edição especial, original Hachette-Paris


#Edição de autor - 2005 de Sebastião de Sousa Chaveca "Memórias do povo sambrasense".




Texto adaptado e publicado por mediaKRIATIVE



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  • Antas e Menires




    Uma das estatuetas-menir -1500 a.C.

    Foto: pág.23 "Atlas Histórico aos nossos dias"

    Neolítico -1500 a.C.






    Placa de chumbo com inscrição ibérica

    Sobreviveram muitas inscrições dessa escrita , mas poucas palavras são compreendidas, excepto alguns nomes de locais e cidades do século III d.C, encontradas em moedas.

    Migrações das tribos pré-românicas no território do atual Portugal:
    Célticos "Celtici"
    Lusitanos "Lusitani"





    Heróglifos, escrita alfabética-800 a.C.

    Foto: pág.31 "Atlas Histórico aos nossos dias"

    A Mina da Tareja

    Foto do livro: "Memórias do povo sambrasense" de Sebastião de Sousa Chaveca

    Estatueta à esquerda
    Deusa Fenícia Anat -800 a.C.

    Foto: pág.36 "Atlas Histórico aos nossos dias"